sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Resoluções de Ano Novo

(1 de janeiro)


As resoluções de Ano Novo sempre foram uma coisa complicada. Ou bem que se tem algo importante para decidir e não percebo o sentido de o fazer numa noite de festa entre copos de espumante, ou então não se trata de resoluções mas meros desejos, alheios à vontade própria, conjuntura que torna a sua concretização ainda mais improvável. Daí que, às 23 horas e 59 minutos do último dia de cada ano, costume faltar exatamente um minuto para que eu leve à boca doze passas de uma só vez e as mastigue distraidamente enquanto aprecio o resto da festa e me interrogo se os outros que por ali andam também terão roupa interior azul ou se serei só eu. E de facto, não. Não acontece que passadas umas horas ou uns dias eu tenha um palpite súbito, que me venha à ideia a resposta ideal para preencher a oportunidade já desperdiçada.

Assim, foi com algum espanto que no primeiro dia do ano percebi (uns minutos depois de ver os dois ponteiros do velho relógio da pista de patinagem apontarem para as doze), vindo do nada como que numa revelação, qual seria o meu objetivo para o novo ano. Era ambicioso... talvez demais. Tentei afugentar a ideia, sentada nas bancadas frias de cimento, enquanto descalçava os patins. Já ali andava há mais de uma hora, tinha entretanto começado a nevar e passada a sensação de magia no ar a neve tornava o gelo pegajoso nos pés. Para além disso era afinal meio-dia e chegavam famílias inteiras com crianças pequenas, cheias de vontade de se porem, incautas, à frente de patinadores adultos menos experientes. Apetecia-me fazer uma caminhada rápida antes de almoço. Enquanto passeava à volta de um lago semi-congelado desfiei para mim mesma os motivos para não ponderar seriamente sobre a concretização da minha hipotética resolução de Ano Novo, uma coisa quase descabida. Arrumei a fantasia num canto mais fresco da cabeça, ali bem entre o rabo-de-cavalo e o gorro e voltei à pista de gelo para ir buscar os meus filhos.


A minha filha rodopiava sozinha a boa velocidade. Fazia círculos largos em recuo, braços abertos, corpo inclinado, ganhando balanço para executar segura e graciosamente diferentes piruetas e distintos passos (que não sei distinguir uns dos outros), totalmente indiferente à neve e a quem a observava. Mais um filme e umas fotos para a família em Portugal. Miúdas pequenas e senhoras da idade das avós costumam parar uns momentos a admira-la. As mais velhas sorriem encantadas enquanto as mais novas olham para os seus próprios pés e tentam perceber como os colocar. O meu filho encontrara um rapazinho da mesma equipa de bandy (uma espécie de hóquei no gelo mas que se joga com uma bola em vez de um disco e onde os jogadores se costumam comportar de forma significativamente menos agressiva e grosseira uns com os outros) e de taco na mão corriam os dois pelo gelo atrás de uma bolinha cor-de-rosa. Voltamos calmamente para casa.

                                

Almoço de Ano Novo já a luz do dia ia mortiça, tarde escura lá fora passada na Netflix, um bolo no forno, uma chávena de café, outra chávena de café e a ideia que não passa. As horas do primeiro dia do ano esgotavam-se rapidamente o que faria com que, automaticamente, a minha indecisão que durava havia onze horas se tornasse numa rejeição. Porque a única regra era “todos os dias”. Não era “mais”, não era “melhor”, era “todos os dias”. Dentro de meia hora, num instante é dois de janeiro e então já não vai dar! Mas por fim... e por que não, afinal? Liguei o iPad, emparelhei o teclado e comecei a escrever. É o que vou fazer. Todos os dias (nem que seja um parágrafo), durante mais 364 dias!


Apontamento 1: a partir de agora as pessoas descritas terão nome, que não corresponderá ao seu nome real. Não que a maioria dos envolvidos entenda português, mas nunca fiando. Tentarei substituir nomes internacionais por outros equivalentes e tentarei que nomes com alguma característica especial mantenham essa característica (maioritariamente são nomes que independentemente da origem remetem a determinadas regiões ou idiomas, por vezes apenas pela grafia particular). Todas os textos que não estejam identificados como ficção retratam a minha memória de acontecimento reais. Ou seja, como acontece com todas as recordações, são moldadas pelo olhar de quem as viu e ocorrências grandiosas podem ser aplanadas na sua importância ou pelo contrário, pequenos episódios ou detalhes que para outros que vivenciaram a mesma situação não sejam essenciais, podem ganhar significado gigante.

Apontamento 2: o facto de ter decidido escrever todos os dias não significa que torne os meus textos públicos à mesma velocidade. É uma experiência, vamos ver como corre. Para conforto e tranquilidade de quem lê, não creio que seja interessante que fique explicito quanto ou o quê escrevi a cada dia. Se bem que eu tencione manter esse registo, privado, como monitorização do percurso.

Apontamento 3: gostaram do que leram? Partilhem. O tempo que gastariam a pôr um like, empreguem-no a fazer uma partilha.

Vamos nisso!

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